Bandeiras de caça aos indígenas: o que foram e exemplos

No Brasil Colonial, os bandeirantes organizaram expedições de caça aos indígenas.

Indígenas capturados por bandeirantes: obra de Debret
Indígenas capturados por bandeirantes: obra de Debret

 

O que eram e contexto histórico

 

O ciclo de caça ao indígena teve início no século XVII. Neste período, os holandeses dominaram vários pontos africanos em que os portugueses obtinham escravos. Com pouca quantidade de escravos para atender as necessidades dos fazendeiros e senhores de engenho brasileiros, ocorreu uma procura maior por mão de obra escrava indígena. Foi então que muitos bandeirantes, principalmente paulistas, aproveitaram a situação para entrar neste “negócio”.

 

As bandeiras de caça ao indígena eram expedições (bandeiras) organizadas por paulistas (bandeirantes), que tinham como objetivo capturar e aprisionar indígenas. Estes eram vendidos para servirem de mão de obra, principalmente na agricultura.

 

Principais características:

 

- A maioria das bandeiras de caça ao indígena foi em direção ao sul do Brasil, pois nesta área havia maior concentração de aldeamentos indígenas controlados pelos jesuítas.

 

- A preferência pelos indígenas dos aldeamentos do sul também tinha outra justificativa. Os indígenas destes aldeamentos já estavam acostumados com o trabalho agrícola, em função dos ensinamentos dados pelos jesuítas. Estes indígenas trabalhavam no plantio e colheita destes aldeamentos. Como conheciam o trabalho, era uma mão de obra que os bandeirantes conseguiam obter maior valor de venda.

 

- A maior parte dos indígenas capturados por estas bandeiras foram vendidos para fazendeiros de São Paulo. Mas a Capitania do Rio de Janeiro e os senhores de engenho do Nordeste também compraram esta mão de obra, embora em menor quantidade.

 

 

Principais causas do fim do ciclo de caça aos indígenas

 

Vários motivos contribuíram para o enfraquecimento das bandeiras de caça ao indígena e suas atividades comerciais. Entre estes motivos podemos citar:

 

- Oposição dos jesuítas à caça, aprisionamento e comercialização de indígenas.

 

- Aumento da oferta de mão de obra escrava africana, a partir da metade do século XVIII. Isto ocorreu quando os portugueses expulsaram os holandeses do nordeste brasileiro e de pontos de tráfico negreiro na costa africana. Os portugueses conseguiram retomar a todo vapor o tráfico negreiro africano.

 

- Os bandeirantes paulistas haviam, num curto espaço de tempo, destruído muitas missões e aldeias indígenas no sul. Com isso, era necessário ir cada vez mais longe para encontrar novas aldeias indígenas. Esta dificuldade acabou desestimulando muitas bandeiras.

 

- Com a descoberta de minas de ouro na primeira metade do século XVII, muitos bandeirantes passaram a se dedicar a exploração das minas. Deixaram a atividade de caça aos indígenas e passaram para esta atividade, que era mais lucrativa e não sofria a oposição dos religiosos católicos.



Exemplos de bandeiras de caça ao indígena:

 

- Bandeira de Antônio Raposo Tavares (1628-1633): essa expedição partiu de São Paulo e percorreu territórios no sul do Brasil e no Paraguai, atacando reduções jesuíticas e escravizando milhares de indígenas guaranis. Foi uma das mais devastadoras incursões contra as missões jesuíticas na América do Sul.


- Bandeira de Manuel Preto e Domingos Lopes (1628): essa expedição reuniu centenas de bandeirantes paulistas e mamelucos para atacar reduções jesuíticas no atual território do Paraná. O objetivo era capturar indígenas para serem escravizados e vendidos em São Vicente, contribuindo para a expansão da escravidão indígena na colônia.

 

Pintura mostrando um bandeirante e ao fundo vários indígenas capturados

Pintura representando um bandeirante com indígenas capturados. Pintura de Henrique Bernardelli, 1925.

 

 


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Artigo publicado em: 22/08/2012. Atualizado em 03/02/2025

Por Jefferson Evandro Machado Ramos
Graduado em História pela Universidade de São Paulo - USP (1994).