Guerra dos Mascates: o que foi, contexto, causas e consequências
A Guerra dos Mascates foi um conflito ocorrido entre 1710 e 1711, no território da então Capitania de Pernambuco, envolvendo principalmente as elites de Olinda e do Recife.

O que foi
A Guerra dos Mascates (1710-1711) foi uma revolta nativista de caráter local que opôs duas classes distintas: os senhores de engenho de Olinda e os comerciantes portugueses estabelecidos no Recife. O conflito girava em torno da autonomia política do Recife, que, até então, estava subordinado administrativamente a Olinda. A insatisfação dos olindenses cresceu quando, em 1709, Recife foi elevado à categoria de vila independente, o que desagradou profundamente as elites olindenses.
Contexto histórico
No início do século XVIII, Pernambuco passava por uma crise econômica devido à decadência da produção açucareira, agravada pela concorrência das colônias holandesas no Caribe. Olinda, tradicional centro de poder político e econômico, era dominada pela aristocracia rural, composta pelos senhores de engenho, que enfrentavam dificuldades financeiras. Por outro lado, o Recife, que havia se consolidado como o principal porto da região, atraía comerciantes portugueses que prosperavam no comércio de produtos e créditos para os próprios senhores de engenho. Essa situação gerava um forte ressentimento por parte da aristocracia de Olinda, que via seu prestígio ameaçado pela ascensão dos comerciantes recifenses.
Causas principais:
- Rivalidade econômica: os comerciantes portugueses de Recife acumulavam riqueza e influenciavam a economia local, enquanto os senhores de engenho de Olinda, endividados, dependiam dos empréstimos desses comerciantes. Isso gerava uma relação de dependência incômoda e alimentava tensões.
- Disputa política: Olinda era a sede administrativa da capitania, o que conferia aos seus representantes o controle político. A elevação do Recife à condição de vila autônoma, com um poder administrativo próprio, foi vista como uma ameaça direta ao poder dos olindenses.
- Orgulho e rivalidade social: os olindenses consideravam os comerciantes portugueses como indivíduos de segunda classe, desprezando-os pelo fato de serem estrangeiros e não pertencerem à aristocracia local. Esse preconceito social ajudou a acirrar ainda mais as hostilidades.
Como foi o conflito
O conflito teve início em 1710, quando os senhores de engenho de Olinda, indignados com a elevação do Recife a vila, lideraram uma série de ataques à cidade portuária, saqueando propriedades e intimidando os comerciantes portugueses. Os recifenses reagiram, organizando uma milícia para defender seus interesses e restabelecer a ordem.
Durante meses, o conflito alternou-se entre momentos de violência e tentativas de negociação, mas nenhuma das partes cedia. A Coroa Portuguesa, atenta à situação, enviou tropas para restaurar a paz e reafirmar a autonomia do Recife, consolidando sua posição como vila independente.
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Pintura de Henry Chamberlain mostrando um mascate com seus escravizados |
Consequências principais:
- Fortalecimento do Recife: A autonomia política do Recife foi mantida, consolidando a cidade como o principal centro comercial e administrativo da região, em detrimento de Olinda.
- Declínio do poder olindense: A aristocracia rural de Olinda perdeu parte de seu prestígio e influência política, sendo gradualmente substituída pelos comerciantes e pela elite urbana recifense.
- Centralização do poder pela Coroa: o episódio serviu para reforçar o controle da Coroa Portuguesa sobre as capitanias, evidenciando a necessidade de uma administração mais direta para evitar novos conflitos regionais.
- Mudanças na estrutura social: o conflito aprofundou as divisões sociais entre os senhores de engenho e os comerciantes, mas também acelerou a transição para uma sociedade mais diversificada, com uma crescente importância das atividades urbanas e mercantis.
Conclusão
A Guerra dos Mascates simbolizou a disputa entre o poder tradicional dos senhores de engenho e a ascensão de uma nova classe ligada ao comércio, refletindo as transformações sociais e econômicas que estavam em curso no Brasil colonial. Esse episódio também marcou o início do protagonismo do Recife na região, um papel que se consolidaria nos séculos seguintes.
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Por Jefferson Evandro Machado Ramos (graduado em História pela FFLCH-USP)
Publicado em 12/02/2025
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Fontes de Pesquisa e Bibliografia Indicada
FAUSTO, Boris. História do Brasil. 2ª edição. São Paulo: Edusp, 1995.